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Pesquisa indica caminhos de transformação econômica do Brasil por meio de capacidades tecnológicas

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O Brasil aumentou recentemente os seus gastos em investigação e desenvolvimento, atingindo 1,3% do PIB na última década – uma percentagem mais elevada do que a observada em alguns dos países mais ricos da OCDE. No entanto, esses investimentos não levaram a um aumento perceptível da inovação no Brasil, porque apesar do crescimento no número de doutorados e de publicações científicas, o aumento médio de depósitos de patentes por brasileiros nos últimos 20 anos foi inferior a 1%. Nesse contexto polêmico, a Escola Brasileira de Administração Pública e Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas realizou um estudo.

O estudo resultou na publicação do livro “Capacidade tecnológica e inovação: desafios para a Transição Industrial e Econômica do Brasil”. O pesquisador Paulo Negreiros Figueiredo, que liderou o estudo destaca algumas das contradições do Brasil em relação aos seus esforços no campo da ciência, tecnologia e inovação.

“Mais de 50% dos investimentos em P&D no Brasil estão concentrados em pesquisa básica no setor público, enquanto nos países da OCDE o setor privado é responsável, em média, por mais de 60% dos gastos nacionais em P&D. Na China e na Coreia do Sul, por exemplo. por exemplo, esse percentual chega a 70% Portanto, contrariando o senso comum, não se trata de baixo investimento brasileiro em ciência, tecnologia e inovação, mas de investimento ineficaz.

Desafios envolvidos no aumento do ritmo de inovação no Brasil

Nesse contexto, a grande maioria das empresas brasileiras que inovam fazem apenas pequenas modificações e imitações criativas, em vez de fazer mudanças fundamentais nas tecnologias existentes ou produzir as suas próprias. No entanto, segundo Figueiredo, se as empresas com baixo nível de inovação forem devidamente incentivadas e apoiadas, poderão evoluir para níveis de inovação que irão acrescentar mais valor à economia do país.

“É importante que as empresas determinem o seu nível de capacidade de inovação, porque é improvável que um utilizador passivo da tecnologia seja capaz de se desenvolver num contexto internacional, enquanto uma empresa que desenvolve capacidades significativas de inovação tecnológica tem mais hipóteses de obter uma posição competitiva. nos mercados globais”, afirma o pesquisador, que observa que o livro pode ajudar os gestores a avaliar seu nível de capacidade de inovação tecnológica e a desenhar suas próprias estratégias de inovação.

Desde a virada do século XX, o governo brasileiro tem produzido diversas políticas públicas voltadas à ciência, tecnologia e inovação, contribuindo para a construção da infraestrutura nacional relacionada à inovação. No entanto, como indica o estudo, este sistema fica muito aquém do que foi alcançado nas economias tecnológica e cientificamente avançadas, bem como em outras economias emergentes ou de rendimento médio. Figueiredo acredita que em vez de simplesmente aumentar os investimentos em I&D, seria sensato dar prioridade ao aumento da eficácia dos investimentos existentes.

“Se o Brasil não aumentar a sua taxa de inovação de forma consistente e sustentável, o país provavelmente continuará a prejudicar a sua transição para níveis mais elevados de desenvolvimento industrial, social e económico. Além disso, as dificuldades estruturais também impedem o Brasil no caminho para inovação, como é comum É muito importante que três ou quatro empresas dominem cada setor, e isso acaba desencorajando a concorrência – um fator importante para a inovação. Como o Brasil sofre com essa falta de concorrência em vários setores, há um desincentivo à inovação.

O pesquisador ressalta ainda que é preciso aproveitar ao máximo a “massa crítica” de profissionais e pesquisadores do Brasil, que muitas vezes ficam limitados à academia ou se mudam para outros países por não terem meios de se desenvolver no Brasil.

“Essa situação dificulta a transformação do conhecimento em produtos e serviços relevantes para posicionar o Brasil de forma competitiva no cenário global”, destaca Figueiredo.

Formas de promover a inovação no Brasil

O estudo também aponta métodos práticos e recomendações para orientar políticas públicas que podem ajudar o Brasil a implementar efetivamente a transformação industrial e econômica. Entre eles, Figueiredo destaca a necessidade de o setor privado assumir a liderança nos gastos com P&D no Brasil.

“O Brasil tem um longo histórico de realização de pesquisa básica em universidades e de direcionamento de soluções criadas para que as empresas sejam beneficiadas, mas quando o sistema funciona dessa forma, essa pesquisa acaba sendo desvinculada das exigências da sociedade, desenvolvendo soluções concretas para os desafios enfrentados pela a população fica limitada”, explica Figueredo.

O pesquisador destaca ainda que as políticas públicas devem ter como objetivo fortalecer e integrar o sistema de ciência, tecnologia e inovação, e promover o diálogo entre os setores público, privado e acadêmico. Segundo Figueiredo, esta integração tem um impacto positivo no desenvolvimento social e económico, com efeitos nos níveis de rendimento, nas infra-estruturas e no bem-estar da população.

“O atraso tecnológico do Brasil é acompanhado pela frustração pelo fracasso em atingir as metas prometidas nos documentos de políticas públicas, pelo atraso nas reformas estruturais, por alguns retrocessos, pela ausência de um plano nacional e pelo desperdício de talentos e oportunidades. É por isso que precisamos avançar com a discussão sobre o aumento da eficácia dos investimentos em P&D no Brasil.” Em última análise, o investimento eficaz é um direito social para as gerações futuras do país e um dever para a geração atual.

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